Sabe esses
dias em que a esperança parece desaparecer dos nossos corações? Eu estava num
dia desses...
O desanimo
invadiu a casa, entrou pela porta, pelas frestas das janelas e parecia querer
dominar todos os objetos. Por fim, me contaminou...
Motivo? Temos
tantos motivos para agradecer que eles se tornam invisíveis no cotidiano, aí
passamos a nos deixar entristecer e chatear por coisas pequenas, e de repente,
a desesperança toma uma proporção inesperada.
E neste estado
coisas eu me entreguei ao sofá. Puxa, o sofá! Um ente acolhedor que pode tornar
nossa vida simplesmente confortável ou arruinar passeios, caminhadas ao ar
livre, conversas informais.
Então,
deitei-me pesadamente no sofá da sala, na certeza de ali permanecer, entregue
passivamente à decisão da programação da TV. O sol encerrou seu trabalho do dia
e convidou a noite para entrar pela janela semiaberta.
Lá pelas
tantas, depois de horas a fio no escuro, vi uma luz esverdeada dançar dentro da
sala. Penetrante, atrativa, balançava graciosamente pelo espaço desviando de paredes
e objetos.
Aquilo me fez
levantar e olhar mais de perto: um vagalume? O que, um vagalume na minha sala?
Que coisa rara! Que coisa bela!
A luz
fosforescente brincava e cintilava no ar. Meu torpor desapareceu e passei a
segui-lo com os olhos, até que ele veio para perto e pousou no sofá do qual eu
havia me levantado. E quando olhei bem de perto, ele se apagou, como que
descansando do vôo de apresentação feito só para mim.
Uma magia
estranha tomou conta do ambiente. Pareceu-me que as paredes da sala
desapareceram. Lembrei-me que a ultima vez que vi um vagalume foi na minha
infância, num sítio da família e dezenas de memórias bonitas vieram à tona.
Desviando os
olhos levemente vi, ao fundo, janela afora, milhares de estrelas reluzentes,
algumas do tamanho de meu pequeno vagalume, outras maiores e mais brilhantes. E
uma delas se desgarrou do céu e veio pousar bem no meu sofá.
De repente me
senti livre, feliz, leve. E pensei: como um pequeno bichinho pode trazer tanto
conforto! Que mundo misterioso esse...
A desesperança
desapareceu. Aquela era uma mensagem, um sinal, de que ninguém nunca está
sozinho, que coisas pequenas (como um vagalume) podem ser fonte de grande conforto
e beleza, que a vida pode ser bem vivida quando olhamos para as mesmas coisas
com outros olhos, que o que é belo pode vir até nós desde que tenhamos
sensibilidade para enxergar.
E nessa
reflexão, lembrei-me do Natal. E me perguntei qual seria a mensagem contida nas
luzes piscando nas árvores, na fachada iluminada das lojas, nos enfeites
brilhantes espalhados por todos os cantos? Comparei-as com aquela luzinha
mágica do meu vagalume, capaz de iluminar a escuridão da sala e acender meu
próprio coração, e conclui: ESPERANÇA!
Então me aproximei
do vagalume, com a vontade de guardá-lo comigo para não mais perder a
ESPERANÇA, e ele levemente decolou e foi em direção à janela, pairando na
soleira, parecendo me convidar a me aproximar. Aproximei-me e ele voou rumo às
estrelas, e se perdeu entre elas.
Então compreendi
o que o vagalume veio me dizer: a ESPERANÇA visita os corações com coisas
simples. Mas não é possível aprisioná-la ou guardá-la só para nós. Quem é
presenteado por ela, deve expressá-la de todas as formas, multiplicá-la como
estrelas e fazê-la presente no mundo, ser um foco de luz que aquece os corações
e deixa a beleza por onde passa.
A ESPERANÇA não
pode ser estática. Ela mora em nossos corações, que como vagalumes podem andar
por aí e encher esse mundo de amor, fraternidade, paz e alívio.
E então
aprendi com um pequeno vagalume o verdadeiro significado das luzes de Natal:
ESPERANÇA!
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